Analisaremos agora a mecânica da Ki em histórias de super-heróis japoneses. Essa mecânica varia para cada história, faltando elementos em algumas histórias, portanto vamos abordar todas as características da Ki excepcional. A saber, de todas as histórias que conheci bem, Yuu Yuu Hakusho (YYH)  é a que mais se preocupa com os detalhes da mecânica da Ki, de modo que poder-se-á perceber muita de sua influência nesta análise.

Ki flui incessantemente por todo o Universo; porções de energia fluem para dentro dos organismos vivos e depois para fora, sendo substituídas por outras que seguem seu fluxo. A energia que deixa um organismo tem suas propriedades modificadas pelo ser pelo qual fluiu, carregando uma memória física e espiritual dele. Assim, pessoas podem ser rastreadas por suas emanações. O fluxo de Ki num organismo é atrapalhado por doenças e ferimentos (tanto físicos como espirituais), de forma que o organismo perde vitalidade. A energia que consegue fluir vai lentamente curando os males, mas, quanto pior forem os males, menos energia fluirá, e mais demorada será a cura.

O total de energia que um organismo retém é referido como a Ki física ou Ki corporal. É a força vital básica do ser, e seu esgotamento completo causa sua morte. Formas de vida superiores, como os animais, desenvolvem uma manifestação superior de força vital, que é a vontade. Isso lhes permite reter mais energia que o normal, uma Ki excepcional, que os envolvem como uma aura. Possuir Ki excepcional significa ser mais forte, robusto, ágil, veloz e perceptível em corpo e espírito do que a biologia normalmente permite à sua espécie.

Clique para ver a aura de Gokuu, de Dragon Ball Z

Naturalmente, a aura retém propriedades adquiridas do organismo que a retém, de forma que pessoas capazes de sentir e enxergar auras podem perceber dela diversas características do ser que ela envolve. Pode-se dizer que a aura é a manifestação do espírito neste plano material; aura é espírito, mas espírito não é apenas aura. De fato, no misticismo sino-japonês, conhece-se dois tipos de espírito: o espírito superior e o espírito inferior. O espírito superior é a alma, a força vital e essência de um ser, enquanto que o espírito inferior é a consciência, ou seja, a vontade e a memória. Em vida, estes dois espíritos encontram-se casados e inseparáveis. A condição de morte consiste justamente na separação dos dois espíritos, pois sem os dois nenhum ser é completo.

Quando os dois espíritos se separam, a alma, que é uma fagulha da chama divina, retorna à sua fonte no plano superior (o Paraíso), e a consciência segue para o plano inferior (o Inferno), onde pagará por seus atos antes de renascer no seu plano de origem (reencarnar). Seres virtuosos têm seus dois espíritos reunidos pelos deuses, tornando-se criaturas espirituais, ou, se forem excepcionalmente virtuosos, tornam-se deuses. O Budismo e Hinduísmo tem posturas um pouco diferentes a esse respeito. Segundo essas filosofias, todo ato gera uma conseqüência, chamada karma. Atos bons resultam em karma bom e atos ruins resultam em karma ruim, que influenciam suas vidas futuras. Um ser só livra-se do ciclo de renascimento (samsara) quando extinguir seu karma, atingindo a iluminação. A iluminação, no Budismo, é chamada de Nirvana e, no Hinduismo, de Moksha. O Nirvana é a elevação do ser para a condição búdica. Buda é a existência mais alta, a existência divina absoluta. É o mesmo que o Tao do Taoismo. No mundo moderno, muitos confundem Buda com Siddharta Gautama, fundador do Budismo, que é considerado o primeiro a tornar-se Buda. Buda não é realmente uma pessoa, é mais uma condição de existência, que muitos poucos conseguem atingir, pois para isso é preciso libertar-se de absolutamente todos os desejos do mundo material, privar-se de todos os sentidos materiais, restando apenas os sentidos espirituais, a vontade e a consciência, que atingem o nível absoluto. Esta é a vida eterna, a vida além da carne, pois a alma e a consicência se tornam inseparáveis e independentes de corpo físico. O ser se torna absoluto, um com toda a existência. O ser deixa de ser indivíduo para ser um com o Todo.

Mas retornemos à Ki excepcional. Um indivíduo dotado de Ki excepcional pode ter certas capacidades físicas e espirituais melhores que outro indivíduo dotado da mesma quantidade de Ki excepcional, mas neste caso outras capacidades do primeiro são inferiores às mesmas do segundo. Isto acontece porque a distribuição da Ki pessoal de um indivíduo não é, necessariamente, igual à distribuição da Ki pessoal de outro indivíduo. Este conceito admite que a distribuição de Ki nos corpos é irregular, como ocorre em YYH. Assim, favorece-se a individualidade dos personagens, tornando a história mais interessante. Outras histórias, como Saint Seiya, negam esse conceito, de forma que personagens de mesma quantidade de energia possuem as mesmas capacidades (poder destrutivo e velocidade, por exemplo). Isso ocorre porque cada autor tem uma visão ligeiramente diferente da mecânica da Ki e sempre procuram ajustar a mecânica da Ki como melhor lhes convir.

Indivíduos dotados de Ki excepcional podem aprender a usá-la para realizar fenômenos extraordinários, vistos como mágicos ou sobrenaturais pelas pessoas comuns. Pode-se canalizar Ki para outra pessoa a fim de ajudar na sua cura, concentrar Ki em pontos específicos do corpo para torná-los mais resistentes a danos e também aumentar sua capacidade de causar dano, ou mesmo emitir porções de Ki para afastar ou pulverizar um alvo. Quando o espírito de luta de um indivíduo emerge, sua aura responde de acordo, fluindo com violência e brilhando intensamente (embora esse brilho não possa ser visto por pessoas comuns). Uma aura feita de uma quantidade descomunal de Ki pode esmagar objetos através do qual flua, despedaçando e arrastando-os. Crateras e tornados podem ser produzidos por auras muito poderosas. Com efeito, Ki é poder.

Indivíduos suficiente hábeis podem transformar sua Ki em outras formas de energia, como luz (radiação eletromagnética), magnetismo, eletricidade, gravidade, calor, movimento, até matéria. Ki pode ser usada como energia bioquímica para alterar substâncias, matérias vivas inclusas. Pode ser usada até para distorcer o próprio tecido do espaço-tempo. Geralmente, cada indivíduo se especializa numa única forma de manipulação da Ki, que é seu princípio técnico pessoal. Neste caso, todas as suas técnicas compartilharão do mesmo princípio, correspondente a um específico comprimento de onda da aura. Pessoas excepcionalmente inteligentes, criativas e intuitivas, entretanto, podem aprender diversos prinípios técnicos e, conseqüentemente, muitas técnicas. Apesar de tais pessoas serem incomparavelmente versáteis, o tempo que passam aprendendo princípios diferentes costuma prejudicar o desenvolvimento do seu poder em volume. Podemos citar como exemplo o personagem Suzuki, de YYH, que conhecia mil técnicas, cada uma de um princípio diferente, mas seu poder era modesto em comparação aos seus oponentes e levou uma surra memorável. O ideal seria uma condição intermediára de versatilidade, na qual o indivíduo se concentra num princípio básico mas, se necessário, seja capaz de adaptar sua aura para funcionar com outro princípio numa situação com a qual se depare. A Mestra Genkai, outra personagem de YYH, é um exemplo perfeito desta condição; sua técnica ReiKou KyouHanShou ("contra-ataque reflexivo de luz espiritual") consiste em adaptar sua aura para o mesmo tipo do oponente para drenar Ki emitida pelo mesmo e posteriormente devolvê-la numa rajada devastadora.

Se a quantidade de Ki pessoal é determinada pela vontade do indivíduo, o desenvolvimento dessa vontade resulta em mais Ki, que por sua vez resulta em maior poder. Desenvolver a vontade através da superação dos próprios limites é a chave para o poder. Isso pode ser feito em batalhas mortais ou em treinamentos extremamente rigorosos, que ponham o indivíduo em situações de risco de vida que estimulem ao máximo sua concentração, resistência mental e espírito de luta.

No misticismo oriental, o corpo humano possui diversos pontos vitais, sendo os mais importantes deles os sete centros de energia chamados chakras (do hindu, significando "roda"). Os chakras são os núcleos de toda percepção e entendimento e estão dispostos em linha reta desde a base da espinha até o topo do cérebro, em ordem crescente de importância espiritual. Os cinco primeiros correspondem aos cinco sentidos que todos conhecemos bem; o sexto chakra, o terceiro olho, corresponde ao sentido paranormal, a percepção intuitiva; e, finalmente, o sétimo chakra corresponde à razão e à sabedoria.

Quanto mais energia cada chakra possuir, maior será sua percepção. Assim, pessoas com Ki excepcional invariavelmente possuem um terceiro olho mais capaz que pessoas normais. Tais pessoas são paranormais, sendo capazes de sentir Ki com maior precisão e alcance que pessoas normais. Sim, pessoas normais (e também animais) sentem Ki, embora fracamente: um frio na espinha quando se sente uma presença ameaçadora espreitando ou mesmo a hostilidade ou estranheza no ar de um local. Essa percepção costuma ser chamada percepção extrasensorial ou sensitividade. Pessoas altamente sensitivas tem intuição forte e premonições, e são capazes de enxergar coisas espirituais independentemente de olhos, o que resulta em visão espiritual de 360 graus. Pessoas cujas sensitividades têm níveis altíssimos são impossíveis de serem surpreendidas pela aproximação de criaturas a menos que saibam ocultar sua Ki. Outros poderes psíquicos são: transmissão e recepção de pensamentos por ondas telepáticas; manipulação mental de objetos com os quais não se tem contato físico (telecinésia); e invisibilidade.


Página Inicial | A Energia Ki | Xintoismo | Chakras | Os Samsaras | Batalhas Mágicas | Referência Mitológica