O Xintoismo foi a primeira religião japonesa. Sua tradução politeista inclui o culto à natureza, à fertilidade e a heróis, técnicas de adivinhação e xamanismo. Diferente do Budismo, Cristianismo e Islamismo, o Xintoísmo não tem um fundador e não desenvolveu escrituras sagradas, uma filosofia religiosa explícita nem um código moral específico. De fato, o Xintoísmo só recebeu esse nome no século VI, quando os japoneses buscaram distinguir sua própria tradição de religiões estrangeiras com a qual entravam em contato, como o Budismo e o Taoísmo. Portanto, na sua origem, o Xintoísmo foi a religião de um povo primitivo que, acima de tudo, eram sensíveis às forças espirituais que permeavam o mundo de natureza no qual viviam. Como uma antiga crônica relata: em seu mundo, uma miríade de espíritos brilhavam como vagalumes e toda árvore e moita podia falar.

Como qualquer religião politeísta, o Xintoismo é baseado no pluralismo. Portanto, não considera a existência de uma verdade absoluta como o pensamento monoteísta considera. Se duas coisas se contradizem ou causam conflito entre pessoas, ambos estão errados e corretos ao mesmo tempo. Conflitos e disputas não eram julgados por uma orientação de valor único; consequentemente, ambos os lados eram punidos igualmente. Pode-se dizer também que as pessoas que acreditam na verdade absolute tendem a pensar que a coexistência é possível apenas entre aqueles que compartilham do mesmo valor. Por outro lado, pessoas que permanecem no pluralismo consideram que a coexistência é possível mesmo entre aqueles que têm diferentes opiniões ou idéias porque cada indivíduo tem uma verdade na sua individualidade, então têm que respeitar um ao outro. É coexistência por harmonia. Este pensamento é o que permitiu aos japoneses aceitar religiões estrangeiras como o Budismo, o Confucianismo e o Taoísmo.

Como os humanos são considerados inferiores às forças sagradas da Natureza, o propósito principal do Xintoísmo é trazer um senso de unidade reverenciando a terra, harmonizando seu povo e ambiente natural, e desenvolvendo um sentimento de comunidade, companheirismo e lealdade ao Estado. Apesar de sua significância em atiçar as chamas do nacionalismo em tempos de guerra, o Xintoísmo é basicamente uma religião de paz. Nesse caso, o significado de paz se refere a uma vida de gratidão aos deuses; uma atitude que incita a honrar a vida em todas as suas formas e tudo o que sustena a vida, e a viver harmoniozamente com a natureza, com as pessoas e com a sociedade.


Os Deuses

No Xintoísmo não há fé num deus absoluto que criou o Universo material separado do plano espiritual. Para o Xintoísmo, o espiritual e o material são inseparáveis - tudo é espiritual. De acordo com a mitologia xintoísta, o Universo veio a existir quando as duas forças cósmicas de yin e yang separaram-se do caos primordial. Destas duas forças opositoras vieram os Cinco Elementos (ar, água, madeira, metal e terra), e estes agentes criaram as Dez Mil Coisas. O domínio de yang se tornou conhecido como o Céu e o domínio de yin, a Terra. Sob a Terra havia o Inferno, que por esta razão também é conhecido como a Prisão da Terra (JiGoku ). Do céu, deuses (Kami, um Kanji também pronunciado Shin/Jin e Kan) apareceram. Desses deuses nasceram outros deuses, a natureza e os humanos. Já foi contado um número de oito milhões de deuses, divididos em celestiais (ama-tsu kami) e terrenos (kuni-tsu kami).

Já que não há conflito entre um criador absoluto (Deus) e uma entidade perversa opositora (Satã), a moral e ética orientais baseiam-se em honra em vez de Bem e Mal, que não consideram conceitos absolutos; para os orientais, ambos são duas faces da mesma moeda. Portanto, deuses podem ser benevolentes ou malévolos, e deuses perversos geralmente não são chamados de demônios. O conceito oriental de demônios vem de outras doutrinas como o Hinduísmo; tais demônios geralmente são fantasmas e monstros viciosos .

Shintou (Shen Dao em Chinês) significa "caminho (ou moral) dos deuses". Em A Energia Ki, expliquei que Shin significa "espírito" ou "mente". Mas há outra variação do significado: "uma divindade" (Kami) . Motouri Norinaga, um sábio do século XVIII, propôs o conceito de kami que é hoje largamente aceito: "o que quer que fosse altamente impressionante, possuísse a qualidade de excelência e virtude, e inspirasse um sentimento de temor respeitoso, era chamado de Kami." "Qualidade de excelência" significa poderes além do homem, como as forças da natureza, do destino e da sorte, e também os espíritos de grandes homens. Essa concepção é verificada na maioria das religiões politeístas da Antigüidade, inclusive na Europa e até na América.

Para ajudar-nos a entender o Xintoísmo, podemos compará-lo à mitologia greco-romana, à qual nós, ocidentais, costumamos estar mais familiarizados. Em ambos os casos, existem divindades de elementos naturais como o Sol, a Lua, o trovão, a chuva, o vento, os mares, as montanhas, os rios, as árvores e assim por diante; podem se contentar ou se enfurecer com os humanos, dando-lhes ou sua bênção ou sua maldição. Essa é a principal razão pela qual eles são tão adorados. Além disso, como os deuses gregos, os deuses japoneses são imperfeitos como os humanos.

Espíritos inferiores, como os dos humanos, aparecem em ilustrações antigas como bolas fumacentas imateriais. São chamados tamashii (, também pronunciado tama e kon) ou rei ( ou , também pronunciado tama e ryou). No Xintoísmo, para ser canonizado após a morte, um humano deve ter alcançado em vida um status heróico similar ao dos semideuses gregos. Apenas aqueles que têm enorme poder espiritual sobre a vida humana são canonizados em vida. Espíritos humanos reverenciados como Kami são chamados shinrei ().

Espíritos de animais são chamados mono ( , também pronunciado butsu e mutsu). Dizia-se que às vezes faziam travessuras com os humanos e portanto as pessoas realizavam ritos para confortá-los. Essa fé ainda se observa nos dias atuais. Em faculdades de medicina de algumas universidades, por exemplo, ritos xintoístas ou budistas são realizados para confortar os espíritos dos animais mortos por propósitos experimentais. Há outros casos para se realizar ritos: para confortar os espíritos de algumas ferramentas feitas e utilizadas pelos homens na vida cotidiana como agulhas, facas, sapatos; ou para purificar prédios antes de inaugurá-los, inclusive usinas nucleares e fábricas de computadores, desejando que todo o trabalho e produção envolvidos sejam feitos apropriadamente e com segurança. A mesma atitude se aplica a shinrei.

Os textos a seguir são adaptações da parte inicial do capítulo Gods and Monsters (Deuses e Monstros) do suplemento para D&D3 Dragon Fist, um cenário de campanha ambientado num mundo oriental extremamente similar ao Japão. Estes textos correspondem à cosmologia do tal mundo fictício, a qual por sua vez baseia-se na mitologia sino-japonesa e portanto é uma excelente referência, embora certamente haja adaptações.


O Céu e a Terra

O regente do Céu é o Senhor do Céu (Tennou), que preside uma Corte Celestial, uma assembléia de deuses e espíritos e é servido por ministros e generais. Seus servos mais importantes são os Duques dos Cinco elementos, cada um dos quais controla um ministério baseado no seu elemento. Outros ministérios estão sob supervisão dos diferentes elementos. Guerra, por exemplo, está sob o Ministério do Metal, enquanto Controle de Enchentes está sob o Ministério da Água. Cada ministério é servido por vários deuses menores e incontáveis espíritos.

Alguns dos deuses vassalos do Senhor do Céu vivem na Terra. O mais importante destes é o Deus do Fogão (também conhecido como o Deus da Cozinha). O Deus do Fogão observa os lares dos mortais durante o ano e ascende ao Céu no Ano Novo para dar um relatório ao Senhor do Céu sobre as atividades das pessoas. Também são importantes os Deuses das Cidades. Estes costumam ser mortais deificados, encarregados de proteger cidades específicas. São por sua vez servidos pelos deuses da Terra, que protegem os cidadãos locais de fantasmas vagantes e outros perigos.

Além de deuses e mortais, a Terra também é lar de vários espíritos. Muitos destes são espíritos da Natureza e representam montanhas, fontes, rios etc. Outros são ancestrais ou outros espíritos dos mortos.

Finalmente, há os dragões, os quais são encontrados no Céu e na Terra. A maioria dos dragões são justos e benevolentes, ícones da sorte. Os Dragões Celestiais (TenRyuu) puxam as carroças dos deuses e ajudam a defender o Senhor do Céu; os Dragões Espirituais (ShinRyuu) vivem no firmamento e fazem a chuva cair; e os Reis Dragões reinam os mares e outros corpos de água. Os únicos membros da espécie realmente malévolos são os dragões de tesouros, que gananciosamente guardam seu tesouro e geralmente vivem sozinhos em lugares esquecidos.


O Destino da Alma

Seres humanos nascem com duas almas. A alma superior, ou kon (), vem do próprio Céu. É a fagulha divina que provê a força animadora. A alma inferior, ou haku (), vem da Terra e representa a natureza humana. É a personalidade e consciência, e também o animal e o instinto.

Quando um humano morre, as almas tomam caminhos separados. O kon ascende de volta ao Céu, onde o Senhor do Céu o absorve. O haku descende ao Inferno, a Prisão da Terra. Já que o haku é a personalidade, é esta alma que é julgada pelos seus feitos em vida. Quando a alma chega ao Inferno, é levada diante de um magistrado demoníaco, que a julga. O haku pode ter um de vários destinos, incluindo mas não limitado aos seguintes:

As opções acima assumem que o falecido tenha recebido o enterro apropriado. Aqueles que não foram enterrados voltam à Terra como fantasmas e assombram o mundo mortal. Aqueles que foram interrados mas não de forma apropriada retornam aos seus corpos mortos e os animam, tornando-se vampiros saltitantes (acho que o autor se referia aos Gaki). É apropriado fazer sacrifícios a parentes falecidos. A maioria das famílias tem um santuário onde oferecem alimento e vinho aos seus mortos. Espíritos dos mortos esperam tal veneração e podem se enfurecer se não estiver próximo. Muitos dos "mortos famintos" (sem dúvida Gaki) são espíritos ancestrais que foram ignorados pelos seus descendentes.


Os Vassalos do Céu

O panteão celestial está longe de ser estático. Enquanto o Senhor do Céu e os Deuses dos Elementos têm estado no Céu desde tempos imemoriais, freqüentemente recebem humanos cujos feitos terrenos garantem deificação. Geralmente um membro da corte do Senhor do Céu notará um candidato valoroso e agirá como advogado para a alma haku do falecido. Se o advogado for persuasivo o suficiente, o Senhor dos Céus concede o valoroso imortalidade e divindade, reunindo a alma haku com sua contraparte kon. Alguns destes novos deuses permanecem no Céu para servir à corte do Senhor do Céu, enquanto outros retornam à Terra para tornar-se Deuses de Cidades ou afins.


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